TJCE - 3000355-74.2024.8.06.0001
1ª instância - 6ª Vara da Fazenda Publica da Comarca de Fortaleza
Processos Relacionados - Outras Instâncias
Polo Ativo
Polo Passivo
Advogados
Nenhum advogado registrado.
Assistente Desinteressado Amicus Curiae
Advogados
Nenhum advogado registrado.
Movimentações
Todas as movimentações dos processos publicadas pelos tribunais
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08/08/2025 16:44
Juntada de Petição de Execução / cumprimento de sentença
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01/08/2025 12:31
Arquivado Definitivamente
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29/07/2025 14:19
Proferido despacho de mero expediente
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25/07/2025 14:53
Conclusos para despacho
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23/07/2025 13:30
Juntada de despacho
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12/11/2024 11:09
Remetidos os Autos (em grau de recurso) para Instância Superior
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12/11/2024 11:09
Alterado o assunto processual
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22/10/2024 11:17
Juntada de Petição de contrarrazões ao recurso inominado
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14/10/2024 14:07
Expedida/certificada a intimação eletrônica
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11/10/2024 21:35
Proferido despacho de mero expediente
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11/10/2024 14:15
Conclusos para despacho
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11/10/2024 14:15
Cancelada a movimentação processual Conclusos para julgamento
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02/10/2024 03:17
Decorrido prazo de MUNICIPIO DE FORTALEZA em 01/10/2024 23:59.
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18/09/2024 14:39
Juntada de Petição de recurso
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12/09/2024 00:00
Publicado Intimação da Sentença em 12/09/2024. Documento: 96189551
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11/09/2024 00:00
Intimação
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO CEARÁ TRIBUNAL DE JUSTIÇA 6ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza SENTENÇA Processo Nº : 3000355-74.2024.8.06.0001 Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) Assunto: [Averbação / Contagem de Tempo Especial] Requerente: ROSY CRISTINA DE SALES BRASIL VIEIRA Requerido: MUNICIPIO DE FORTALEZA Trata-se de demanda por meio da qual a parte autora, na condição de servidora pública exercente do cargo de médico, almeja provimento jurisdicional, inclusive de natureza liminar, que imponha à parte ré contar de forma especial o tempo de serviço desde sua admissão até o momento como prestado em condições insalubres, seguinda da correspondente emissão de certidão de tempo de serviço.
No mérito requereu fossem ratificados os direitos e determinações liminarmente dadas e reconhecidas.
Para isso, alegou estar vinculado ao regime estatutário do ente réu e receber, conforme fichas financeiras, desde setembro de 2008, o pagamento de gratificação de insalubridade, dizendo ainda também ser público e notório o indeferimento administrativo de tal pretensão.
Com a inicial veio certidão de tempo de serviço expedida em nome da parte autora (período 17/10/2002 a 15/03/2023) no ID 78137591, indicando tratar-se de médica integrante do serviço público municipal que conta com 20 anos, 5 meses e 5 dias (7.455 dias líquidos), com lotação no Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Presente ainda ficha financeira (ID 78137595) desde o ano de 2003, registrando pagamento de adicionais de insalubridade desde setembro de 2008.
Consta ainda declaração de vínculo (ID 78137597) apontando sua lotação atual como sendo a Secretaria Municipal de Saúde.
A tutela de urgência não foi concedida (ID 78212177).
Citado, o município de Fortaleza contestou (ID 79660136) alegando estar limitada a contagem diferenciada do tempo de serviço conforme as regras do RGPS até 13/11/2019, por força da promulgação da EC n. 103/2019 e da Lei complementar municipal n. 298/2021, ante o que prescrevem seus arts. 21 (EC 103/2019) e 32 (LC n. 298/2021), requerendo a improcedência dos pedidos autorais.
A improcedência também foi requerida alegando que a parte autora não conseguiu provar a exposição habitual e contínua, pelo tempo de carência, aos agentes nocivos que qualificam como especial o tempo de serviço prestado.
Réplica veio no ID 83133339, aludindo à comprovação da exposição da parte autora aos agentes nocivos no ambiente de trabalho pelo pagamento do adicional de insalubridade desde setembro de 2008, tendo demonstrado, ademais, integrar o serviço público pelo tempo da carência exigida pela lei.
O órgão ministerial opinou pela procedência do pedido autoral (ID 84984366).
Autorizado o julgamento da causa (art. 355, inciso I, CPC), tenho como improcedente o pedido autoral.
Como alegado na contestação, e não refutado pela parte autora, é de se reconhecer o direito à aposentadoria especial aos servidores públicos que, até o advento da EC n. 103/2019, de regra, tenham completado 25 anos ou mais de tempo de serviço prestado em condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Essa, aliás, a mesma ratio aplicada pelo Supremo Tribunal Federal ao editar o Tema 942 de Repercussão Geral (RE 1014286) que regulamentou o direito à conversão, em tempo comum, daquele prestado sob condições especiais, a partir da redação do art. 21 da EC n. 103/2019: Art. 21.
O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. § 3º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, na forma do § 4º-C do art. 40 da Constituição Federal, as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. Daí a necessidade de a parte requerente - admitida que foi no serviço público municial antes do advento da EC 103/2019 - comprovar, desde a inicial, o cumprimento não apenas do tempo de serviço público necessário à aposentação especial, como também que este tenha sido desenvolvido sob condições especiais (sob efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes). É fato que os benefícios decorrentes da inatividade regulam-se pela lei vigente ao tempo da implementação das condições para a aposentadoria, como afirmado pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Súmula n. 359.
Nada obstante, diante da regra de transição criada junto à EC n. 103/2019 (art. 21, § 3º), na ausência de Lei complementar editada pelo ente réu, as condições para a aposentadoria especial serão aquelas previstas no RGPS, como determinado pela Súmula Vinculante n. 33, do Supremo Tribunal Federal. É por essa razão que depende o reconhecimento do direito da parte autora à aposentação especial do trabalho em condições de insalubridade por 25 anos, conforme sua categoria profissional: STF - Súmula Vinculante n. 33 Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica. Art. 57.
A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) (Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991). No caso dos autos, a parte autora não comprovou ter prestado serviço sob as condições a que alude o art. 57 do RGPS, não bastsando para tal finalidade a mera demonstração de pertencimento aos quadros do serviço público municipal concomitantemente ao pagamento do adicional de insalubridade, como já decidiu pacificamente o Superior Tribunal de Justiça: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL.
RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO.
APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO.
ATIVIDADE ESPECIAL.
REGIME CELETISTA.
CONVERSÃO EM TEMPO ESPECIAL.
POSSIBILIDADE.
EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO DE SERVIÇO PELA AUTARQUIA PREVIDENCIÁRIA.
PRECEDENTE DA 3ª SEÇÃO DO STJ.
INAPLICABILIDADE AO CASO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS SEM EFEITO MODIFICATIVO. 1.
A tese principal gira em torno do reconhecimento do direito da servidora pública federal aposentada, tendo exercido emprego público federal regido pela CLT, à conversão do tempo de serviço exercido sob as regras do regime geral da previdência, prestado em condições especiais/insalubres. 2.
A Terceira Seção do STJ, em recente julgamento, datado de 24/09/2008, reiterou o entendimento de caber ao servidor público o direito à contagem especial de tempo de serviço celetista prestado em condições especiais antes da Lei 8112/90, para fins de aposentadoria estatutária. (AR 3320/PR). 3. É devida a aposentadoria especial, se o trabalhador comprova que efetivamente laborou sob condições especiais.
No presente caso, no tocante aos interregnos laborados como servente e agente administrativo, verificou o Tribunal a quo não haver prova nos autos que indique a exposição da autora a agentes insalutíferos, na forma da legislação previdenciária, não reconhecendo, ao final, o direito ao tempo de serviço especial. 4.
O percebimento de adicional de insalubridade, por si só, não é prova conclusiva das circunstâncias especiais do labor e do conseqüente direito à conversão do tempo de serviço especial para comum, tendo em vista serem diversas as sistemáticas do direito trabalhista e previdenciário. 5.
No presente caso, hipótese em que o Tribunal a quo não reconheceu a atividade de servente como insalubre, seu enquadramento como atividade especial encontra óbice na Súmula 7/STJ. 6.
Embargos de declaração acolhidos sem injunção no resultado. (STJ - Edcl no AgRg no REsp n. 1.005.028/RS, relator Ministro Celso Limongi (Desembargador Convocado do TJ/SP), Sexta Turma, julgado em 17/2/2009, DJe de 2/3/2009.) Destaques não presentes no original. PROCESSUAL CIVIL.
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
FUNDAMENTO GENÉRICO.
SÚMULA 284/STF.
SERVIDOR.
CÔMPUTO DE TEMPO ESPECIAL EM RAZÃO DE RECEBIMENTO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
INSUFICIÊNCIA. 1.
A alegada ofensa ao art. 535 do CPC foi apresentada de forma genérica pelas recorrentes, tendo em vista que não demonstraram, de maneira clara e específica, a ocorrência de omissão no julgado, atraindo, assim, o enunciado da Súmula 284 da Suprema Corte. 2.
A percepção de adicional de insalubridade pelo segurado, por si só, não confere o direito ao servidor de ter o respectivo período reconhecido como especial. 3.
Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - 2ª Turma.
AgRg nos EDcl no REsp 1256458/PR, Rel.
Min.
Og Fernandes, julgado em 27/10/2015, DJe 12/11/2015). Não sendo possível reputar demonstrada a efetiva exposição da parte autora, durante o tempo indicado na certidão de tempo de serviço junta, aos agentes nocivos que tornam insalubre as condições de trabalho a que submetida, impõe-se verificar se é sua a responsabilidade de demonstrar tal exposição, estando a litigar contra a Administração Pública em favor de quem labora.
Tendo sido, como acima mencionado, admitida no serviço público antes da EC 103/2019, e se sujeitando, tal como o ente réu, às disposições do RGPS por força do que determina a Súmula Vinculante n. 33, do Supremo Tribunal Federal, a demonstração da submissão não ocasional a condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física, como lhe compete na forma apontada também junto ao RGPS: Art. 57.
A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) […] § 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social-INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) § 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) § 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício. (Incluído pela Lei nº 9.032, de 1995) […] § 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.732, de 11.12.98) De sua vez, o art. 58 do RGPS, após referir à edição de Decreto relacionando os agentes que, individualmente ou por associação, são prejudiciais à saúde ou integridade física do trabalhador, aponta que a comprovação das condições especiais deve ocorrer mediante laudo emitido pelo órgão empregador (no caso do servidor público), que deve manter atualizado perfil profissiográfico a ser entregue ao servidor, a requerimento desse: Art. 58.
A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997) § 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação trabalhista. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98) § 2º Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo estabelecimento respectivo. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98) § 3º A empresa que não mantiver laudo técnico atualizado com referência aos agentes nocivos existentes no ambiente de trabalho de seus trabalhadores ou que emitir documento de comprovação de efetiva exposição em desacordo com o respectivo laudo estará sujeita à penalidade prevista no art. 133 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.528, de 1997) § 4º A empresa deverá elaborar e manter atualizado perfil profissiográfico abrangendo as atividades desenvolvidas pelo trabalhador e fornecer a este, quando da rescisão do contrato de trabalho, cópia autêntica desse documento. Diante desse quadro normativo, ainda que não possa atestar simplesmente, de forma unilateral, a parte autora as condições especiais a que submetida durante seu trabalho, caberia a ela, na condição de servidor interessado na contagem de tempo especial, comprovar, em razão do ônus imposto ao trabalhador pelo RGPS, na ausência de laudo técnico emitido voluntariamente pelo ente réu atestando referidas condições, ao menos ter demonstrado que, para fins de obtenção da aposentadoria especial, a emissão do referido documento requereu perante o ente réu competente. É dizer, portanto: não há provas de que a parte autora tenha requerido a emissão de referida certidão, ou mesmo a aposentadoria especial, na via administrativa, dando assim ensejo a que o órgão competente pudesse produzir o laudo necessário acerca das condições especiais de trabalho destinado a instruir aludido pedido.
Não é demais lembrar que o dever da parte produzir tal prova, na ausência de requerimento administrativo de aposentadoria, à vista do que consta no RGPS, se evidencia ante o que determina o próprio CPC, ao lhe atribuir o ônus de comprovar os fatos constitutivos do direito perseguido (art. 373, I, CPC).
Daí, a partir das provas trazidas com a inicial, não se pode, até o momento, também se reputar demonstrada a prestação dos serviços pela parte autora nas condições especiais reclamadas pela lei para a concessão da aposentadoria requerida. É certo que a parte autora dá a entender ter comprovado a efetiva exposição ao agentes nocivos mediante a percepção do adicional de insalubridade, não assumindo como seu o ônus da juntada do laudo mencionado, ou documento equivalente.
Nada obstante, irrelevante mostra-se a alegação, sendo mesmo o réu quem detém o histórico funcional e o controle das condições ambientais sob as quais presta a autora seu trabalho.
Não foi por outra razão, aliás, que o RGPS atribuiu ao empregador - equivalente, no caso, ao ente réu - o dever de emitir laudo nos termos do seu art. 58, §§ 2º e 3º.
Contudo, o ônus da produção desse documento, em sede de demanda judicial, não pode ser imposto ou exigido diretamente da parte requerida, como parece pretender a parte autora da forma como pretende, sem nem mesmo requerer em juízo a produção de tal prova, independentemente de ter comprovado ter instado ao menos previamente o réu, para fins de concessão da aposentadoria especial, a elaborar ou emitir aludido documento.
No caso dos autos, a ausência de pedido administrativo de aposentadoria não apenas retirou da parte ré a oportunidade de fornecer referido laudo, como impediu que a parte autora demonstrasse, por meio de eventual recusa do ente réu em tal fornecimento, a existência de injusto e ilegal óbice causado pelo ente réu, frustrando o cumprimento do RGPS nesse ponto.
Logo, não há possibilidade jurídica de, ante o não fornecimento voluntário desse documento com a contestação, reputarem-se concretamente presentes as condições especiais que foram simplesmente alegadas na inicial perante a administração do ente réu, ante a ausência de prova material capaz de suprir a falta do laudo citado.
Afinal, como se sabe, limitando-se o réu a negar o fato constitutivo do direito postulado na inicial, o ônus da prova dos fatos constitutivos do direito alegado continua sendo da parte autora, ainda mais em sede de demanda fazendária, na qual nem mesmo a revelia produz os efeitos correlatos (art. 345, II, CPC). É o que se impõe compreender no caso dos autos, pois, do contrário, não haveria sentido algum na existência do art. 373, inciso I, do CPC.
Em outras palavras: a regular intelecção do art. 373 do CPC evidencia que a exigibilidade do ônus probatório imputado ao réu quanto à demonstração da existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor somente tem lugar e vez depois que a parte autora houver cumprido seu próprio ônus, que é o de provar o fato constitutivo de seu direito, o que, no caso dos autos, não ocorreu.
Mas não se quer, com isso, dizer que a parte autora não teria o direito de requerer judicialmente a emissão da certidão de tempo especial porque não ingressou com de pedido administrativo de aposentadoria.
O que se afirma é que a improcedência do pedido autoral decorre pura e simplesmente da ausência de provas das condições especiais em que prestado o trabalho, ônus esse que somente poderia ser imputado ao réu se comprovada, pela parte autora, a existência de pedido administrativo de aposentadoria.
Aliás, a parte autora sequer aludiu à existência de regras administrativas regulando a emissão, perante a administração municipal, de laudo ou certidão que atestasse, como e desde quando, eram as condições de trabalho a que submetida a agentes nocivos à vida e à saúde em relação ao período anterior à vigência da Lei complementar n. 298/2019.
A parte requerente nem mesmo se preocupou, na ausência de pedido administrativo de emissão da certidão, ou de concessão de aposentadoria (e de fornecimento do laudo pelo ente réu), em suprir-lhe a falta por conta própria.
Sequer declarações ou atestados do chefe imediato, ou prova equivalente passível de obtenção a partir do mero exercício do direito de petição (art. 5º, XXXIV, "a", CF) foram trazidas aos autos.
Tais documentos, diante de eventual recusa ilegal por parte do réu em fornecer o laudo, poderiam tê-la ajudado a, submetidos ao contraditório, desincumbir-se validamente do ônus a ela imposto tanto pelo RGPS, como pelo CPC, permitindo-lhe, inclusive, que o réu, ele também, cumprisse o ônus a que se refere o art. 373, II, do CPC, apresentando o laudo faltante.
O conjunto formado por essas provas, se e quando existente, depois de somado à demonstração da percepção do pagamento da gratificação de risco de vida ou saúde durante o período de trabalho especial nesses termos comprovado, poderia permitir ao juízo reputar juridicamente presente o direito à buscada contagem especial do tempo de serviço, como demonstra a jurisprudência do e.
TJCE: ADMINISTRATIVO.
PREVIDENCIÁRIO.
PROCESSUAL CIVIL.
APELAÇÃO.
AÇÃO ORDINÁRIA.
SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.
ATIVIDADE INSALUBRE.
CONTAGEM ESPECIAL DE TEMPO DE SERVIÇO.
AUSÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR A DISCIPLINAR A MATÉRIA.
APLICAÇÃO DAS NORMAS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL.
SÚMULA VINCULANTE Nº 33.
PROVA DOCUMENTAL SUFICIENTE PARA COMPROVAR A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EM CONDIÇÕES DE INSALUBRIDADE E O DIREITO À PERCEPÇÃO DO CORRESPONDENTE ADICIONAL.
APELAÇÃO DESPROVIDA. 1.
A controvérsia cinge-se a definir se a parte apelada, servidores públicos municipais possuem direito à contagem especial do tempo de serviço prestado sob condições insalubres. 2.
Conforme entendimento da Súmula Vinculante nº 33, STF, aplicam-se as regras do regime geral de previdência sobre a matéria aos servidores públicos enquanto perdurar o silêncio do legislador.
Portanto, caberá a contagem especial durante todo o tempo de serviço prestado em condição insalubre, seja sob o regime celetista ou sob o regime estatutário, até que lei complementar regule a matéria. 3.
Especificamente sobre a contagem durante o período celetista, tem-se entendimento firme na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça de que se trata de direito adquirido (STF, RE 255827; STJ, AgRg no AREsp 680.209/ES) 4.
Para que o tempo de serviço seja considerado especial nos moldes da norma constitucional indicada, faz-se necessária a comprovação da efetiva exposição do trabalhador a condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. 5.
Os recorridos argumentam que desde a sua admissão estão expostos, de forma habitual e permanente, à insalubridade, o que lhe compromete a saúde e a integridade física.
Para a comprovação do fato, os autores juntaram a declaração de que trabalha prestando serviços de emergência e cópias de contracheques que indicam a percepção do adicional de insalubridade. 6.
Diante das alegações e provas documentais carreadas, caberia ao ente municipal, detentor do histórico dos servidores e das condições de trabalho, demonstrar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora, na forma do art. 373 do CPC, ônus não cumprido. 7.
Apelação conhecida e desprovida. (TJCE - 1ª Câmara de Direito Público.
Apelação Cível - 0735901-46.2000.8.06.0001, Rel.
Desembargador(a) FERNANDO LUIZ XIMENES ROCHA, data do julgamento: 19/09/2022, data da publicação: 19/09/2022). Dessa forma, sem prova mínima - ou regular - da prestação de serviços em condições especiais/insalubres, prova essa que não pode ser suprida somente com a demonstração de anterior pagamento dos adicionais de insalubridade ou equivalentes (STJ - 2ª Turma.
AgRg nos EDcl no REsp 1256458/PR, Rel.
Min.
Og Fernandes, julgado em 27/10/2015, DJe 12/11/2015; 1ª Turma.
AgInt no AREsp 219.422/PR, Rel.
Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/08/2016, DJe 31/08/2016), inviável o deferimento do pedido de contagem especial do tempo de serviço prestado nos termos alegados na inicial, e de emissão de certidão de tempo de serviço evidenciando referida (e inviabilizada) contagem.
Diante do exposto, julgo improcedente o pedido autora, extinguindo o processo com resolução do mérito (art. 487, I, CPC).
Sem custas e honorários.
Intimem-se.
Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com a devida baixa.
Datado e assinado digitalmente. -
11/09/2024 00:00
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 11/09/2024 Documento: 96189551
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10/09/2024 14:29
Juntada de Petição de petição
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10/09/2024 14:15
Expedida/certificada a comunicação eletrônica Documento: 96189551
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10/09/2024 14:15
Expedida/certificada a intimação eletrônica
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09/09/2024 09:48
Julgado improcedente o pedido
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07/05/2024 01:28
Decorrido prazo de PROCURADORIA GERAL DE JUSTICA em 06/05/2024 23:59.
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25/04/2024 20:50
Conclusos para julgamento
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25/04/2024 19:08
Juntada de Petição de petição
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18/04/2024 11:25
Expedição de Outros documentos.
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11/04/2024 14:02
Proferido despacho de mero expediente
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11/04/2024 11:54
Conclusos para despacho
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22/03/2024 10:39
Juntada de Petição de réplica
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20/03/2024 00:00
Publicado Intimação em 20/03/2024. Documento: 82324280
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18/03/2024 00:00
Disponibilizado no DJ Eletrônico em 18/03/2024 Documento: 82324280
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16/03/2024 17:20
Expedida/certificada a comunicação eletrônica Documento: 82324280
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13/03/2024 17:24
Proferido despacho de mero expediente
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08/03/2024 14:23
Conclusos para despacho
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15/02/2024 10:34
Juntada de Petição de contestação
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15/02/2024 10:25
Juntada de Petição de contestação
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15/01/2024 09:09
Expedição de Outros documentos.
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11/01/2024 20:35
Proferidas outras decisões não especificadas
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09/01/2024 13:22
Conclusos para decisão
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09/01/2024 13:22
Distribuído por sorteio
Detalhes
Situação
Ativo
Ajuizamento
09/01/2024
Ultima Atualização
08/08/2025
Valor da Causa
R$ 0,00
Documentos
Execução/Cumprimento de Sentença • Arquivo
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